Série Perfil dos Vereadores

De leiteiro a veterinário, professor e vereador em Santa Maria 

José Mauro Batista

Professor universitário há 35 anos e vereador desde 2001, o médico-veterinário Manoel Badke, 62 anos, orgulha-se de ter nascido "dentro do campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)" e trabalhado como leiteiro.

Maneco, como é conhecido, há 16 anos divide a vereança com a docência. No ano passado, reelegeu-se pelo Democratas (DEM) com 2.122 votos, o 13º colocado entre os 21 parlamentares da atual legislatura.

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Nascido no Distrito de Pains, Maneco morava com os pais em uma área rural próximo de onde foi construído o Hospital Veterinário. Os pais viviam da criação de vacas leiteiras e de agricultura familiar. Parte das terras do avô paterno, Joaquim Farias Badke, conhecido como Quinca Badke, foi desapropriada para a instalação do campus universitário. Aos oito anos, mudou-se para a cidade. Nas férias escolares, porém, virava leiteiro.

– Meus pais tinham tambo de leite e eu vinha de carroça entregar leite na cidade. Se fosse hoje, meus pais seriam acusados de exploração de trabalho infantil, mas são valores. Minha filha, Manoela, de nove anos, limpa a casa, lava louça e faz chimarrão para o pai – conta.

Da sala de aula para a Tribuna da Câmara de Vereadores

Depois de uma passagem pelo Exército, fez vestibular para Medicina, mas não passou. Aí veio a opção pela Veterinária, curso no qual se formou em 1983, pela UFSM, e do qual se tornaria professor. Hoje, o vereador leciona microbiologia em 10 cursos.

O primeiro interesse por política surgiu na faculdade, como líder estudantil. Por influência paterna, optou por ser de direita.

– Meu pai era do Partido Libertador, da Arena, do PDS, sempre na direita. E como era um exemplo para mim, segui a mesma linha – explica.

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Em 1996, Badke teve sua maior decepção política. Queria ser candidato a vereador, mas não passou na convenção do PP (na época a sigla era PPR). Mesmo assim, diz ter recusado cargo para mudar de lado e manteve apoio aos candidatos da sigla na eleição.

A conquista do primeiro mandato para a Câmara viria quatro anos depois, pelo Partido da Frente Liberal (PFL), antecessor do DEM. A partir daí, o professor emplacou quatro mandatos e ficou suplente em uma legislatura.

Foto: Gabriel Haesbaert / NewCo DSM

BICHOS E FUTEBOL

Na Câmara, o vereador atua na Comissão de Saúde, entre outros colegiados, como a Frente Parlamentar do Esporte, e é o líder do governo. Mas é nas questões ambientais e na defesa dos animais que mais tem se destacado. É autor do projeto de colocação de microchips em animais de estimação para evitar maus-tratos e abandono. Também propôs a criação de uma central de bem-estar animal. Os dois projetos ainda não foram implantados, mas, segundo ele, estão em fase avançada.

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Afora a política e a docência, o vereador defende as cores do Fighera no campeonato amador de futebol de campo, na categoria 60 anos. O ala-esquerda conta que já conquistou vários títulos pelo time da Vila Fighera.

Como professor universitário, Badke se emociona ao falar sobre a tragédia da boate Kiss, que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos em janeiro de 2013. Entre as vítimas, estavam dezenas de alunos e, por pouco, ele não perdeu a filha mais velha no incêndio que ele define como ¿uma infelicidade¿.

ENTREVISTA

Diário de Santa Maria – Como é conciliar a função de líder do governo com as cobranças que seu partido faz por mais cargos na prefeitura? E como está a sua relação com o secretário de Desenvolvimento Rural, Rodrigo Menna Barreto, que ameaça deixar o DEM?

Manoel Badke – Ser líder do governo é uma atribuição que faz com que tu tenhas alinhamento com o Executivo. É preciso estudar os projetos e criar argumentos para levar ao Parlamento e mostrar que são importantes para a cidade. Toda crítica construtiva tem seu valor, mas a crítica pela crítica não tem sentido. 
Quanto aos cargos, foi o partido que cobrou porque os primeiros seriam os primeiros. E o DEM esteve desde o primeiro turno com o prefeito, junto com PSDB, PP e PR. Como o diretório do partido estava descontente, houve essa manifestação para que se abrisse mais espaço. Quanto ao Rodrigo, que foi meu aluno, não tenho nada contra a pessoa dele. Temos uma divergência de postura política.

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Diário – Como estão os projetos da microchipagem de animais e da central de bem-estar animal?

Badke – O da microchipagem, para identificação do animal e seu dono e para a posse responsável, está andando. Já a central é o órgão da prefeitura para gerenciar todo o processo que diz respeito a animais em Santa Maria. Mas não é para apreensão e recolhimento. Canil municipal, nem pensar. Sou totalmente contra. Também faço parte da comissão especial da Câmara que trata dos carroceiros. Temos de pensar na qualidade de vida dessas pessoas e construir, no mínimo, cinco centrais de reciclagem para dar dignidade a essas pessoas, que irão para a coleta seletiva.


Diário – Qual sua opinião sobre corte de verbas para a UFSM e a relação entre a universidade e Santa Maria?

Badke – Há cortes de verbas, e eles preocupam, mas não é só isso. Há um sucateamento das universidades, feito pelo governo anterior (se refere aos governos do PT). Na minha leitura vejo que muitas atividades da UFSM deveriam ser mais abertas à participação da comunidade, como, por exemplo, a Expofeira. Participo de ações e represento a Câmara de Vereadores na Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec), da qual sou diretor administrativo. Vejo a Fatec como alternativa positiva para a busca de recursos.


Diário –
De que forma a tragédia da Kiss lhe impactou, pela perda de alunos?

Badke – Perdi dezenas de alunos. Depois da tragédia, só passei duas vezes em frente à Kiss, mas não olhei para o prédio. Evito passar naquela rua, foi algo que me marcou muito. Houve erros (que contribuíram para a tragédia), mas foi uma infelicidade.

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